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domingo, 20 de fevereiro de 2011

O significado da arte na vida do aluno

Atualmente é muito difícil ensinar arte para alunos do EF II e Médio devido à banalização da arte na sociedade contemporânea. A tudo dá-se o nome de “Arte”, porém sabemos que não é bem assim.
Requisito para que algo seja considerado arte é a intenção do artista em comunicar, transmitir uma mensagem, expressão uma opinião, sentimento, sua visão sobre o mundo.
Nesse sentido, acredito sim ser possível fazer arte na escola. Uma vez que o professor oriente o aluno a buscar, através da reflexão, sua manifestação interna a respeito de um determinado assunto, acredito que o fruto desta reflexão seja arte.
O complicado é que muitas vezes o professor não agrega a reflexão ao fazer artístico do aluno. Fazendo isso, a arte perde o significado para o aluno. Se simplesmente o professor pede ao aluno para reproduzir uma obra através da releitura – o que eu questiono – ele não está deixando espaço para a reflexão. O aluno vai simplesmente reproduzir algo de outra pessoa, o sentimento de outro, a opinião de outro. É certo de que o aluno pode manifestar sua opinião sobre a obra “relida”, mas não é o mesmo de quando o aluno faz sua leitura particular do mundo, ou de si mesmo, através de uma produção pessoal.
O mundo está em constante mudança, e essas mudanças acontecem cada vez mais rápido. Essa nova galerinha que chega todos os anos em nossas salas de aula estão crescendo com essas mudanças, ou seja, eles estão completamente adaptados para isso. É função do professor ajudar o aluno a assimilar toda essa avalanche de informações, as quais ele é exposto todos os dias.
E como fica a arte no meio disso tudo?
A arte contemporânea é de difícil conceituação, justamente porque tudo acontece muito rápido, tudo muda muito depressa, e tudo pode ser usado para se fazer arte atualmente.
Se tudo pode ser usado para se fazer arte, então o professor tem de ir além do pincel e tinta. Muito além do lápis de cor e giz de cera. O professor deve re-significar esse materiais para si mesmo, para só então poder dar um uso criativo e interessante para o aluno. Se não, caímos na obsolescência.
Existem muitos alunos que não valorizam o conhecimento, o estudo, e certamente muitos mais que não valorizam o estudo da Arte. Porém, independente disso, o professor precisa buscar meios de alcançar o maior número possível desses estudantes, a fim de que eles entrem em contato com as Artes de uma forma única e pessoal.
Como professora eu não pretendo formar nenhum artista na sala de aula. Talvez revelar o já existentes, mas nunca formar – obrigar alguém a ser algo de que não queira.
Mas, acredito ser de minha responsabilidade a função de mostrar para o aluno que a Arte pode e deve ter um significado em sua vida. A arte tem lugar na vida deles, porém eles ainda não sabem disso.
Um exemplo disso tudo que tenho dito acima é um trabalho que fiz com alunos do 8° ano do EF II.
Começamos nosso trabalho a partir de algo que é do conhecimento e do interesse de muitos deles: Lady Gaga.
Independente de ser próprio para a idade deles ou não, todos os alunos vêem os vídeos da Lady Gaga. Sendo assim, eu levei para a sala de aula um dos vídeos dela: “Bad Romance”.
O vídeo é repleto de símbolos e mensagens, que passa desapercebido pela maioria dos jovens que o assistem.
Fizemos uma análise minuciosa dos símbolos presentes, da mensagem que o vídeo nos trás através deles e da letra da música em si. Refletimos a respeito disso tudo juntos, através do debate em sala de aula, onde os alunos puderam manifestar abertamente suas opiniões a respeito da cantora, do vídeo, da mensagem transmitida e a relação disso tudo com a sociedade em que vivemos.
A partir daí, pedi aos alunos que produzissem telas que mostrassem cenas do vídeo, ou então a opinião deles a respeito do vídeo. Sempre tem aquele aluno que não gosta da Lady Gaga, e na tela eles puderam expressar sua opinião.

Eis o resultado do trabalho.






 






sábado, 5 de fevereiro de 2011

Trabalhando Barroco com EF II

Após estudar com os alunos as características, intenções, contexto histórico e cultural do Barroco, podemos criar trabalhos muito interessantes que ganhem a atenção dos alunos em sala.

É imprescindível que o professor busque sempre inovar em sala de aula, pois o mundo muda tão rapidamente, e mais rápido ainda o aluno perde o interesse nas coisas.

Essa nova galerinha que vem chegando está cada vez mais antenada nas tecnologias, nas mudanças pelas quais nossa sociedade vem passando, eles tem acesso a um infinidade de "informação", e ninguém os ensina a como lidar com elas. Papel que, obviamente, naturalmente fica a cargo da escola, dos professores.

Uma maneira interessante de ganhar a atenção dos alunos é trabalhar com materiais os quais eles não costumam usar cotidianamente. Apresentar materiais diversificados e usá-los de maneira criativa faz toda a diferença na sala de aula.

Ao estudar barroco brasileiro, uma ideia que funcionou muito bem foi a confecção de oratórios em caixa de sapato.

Como costumo deixar o barroco para o final do ano, os oratório serviram para exposição de Natal do colégio.

Materiais necessários:

- caixa de sapato
- jornal
- betume da juréia (dê prefência para o betume em pasta)
- um pote para colocar o betume (no caso do líquido)
- pincel
- tinner (para limpeza dos pincéis)
- mistura de cola e água
- cola quente

Cortamos as caixas de papelão nos formatos dos oratórios, depois empapelamos tudo com a cola e o jornal. Após isso, fazemos a montagem do oratório, colamos com a cola quente para que tudo fique bem firme. Após a montagem, revestimos tudo com o betume e esperamos secar. O betume dá um aspecto de madeira à caixa de sapato.

Aí deixa a galera soltar a imaginação no acabamento e decoração dos oratórios. Pode-se utilizar a temática religiosa, ou inventar algo além. Cada aluno escolhe o que coloca dentro do seu oratório.

É importante lembrar ao aluno que, por se tratar de uma aula de artes, podemos usar nossa criatividade e imaginação, sem a necessidade confeccionar um oratório para abrigar um santo. Pode-se colocar o que achar interessante.

Personalização - 9° ano

Trabalhar artes com o 9° ano pode não ser um trabalho fácil. Alguns alunos já se acreditam adultos, pois estão com um pé no Ensino Médio. Outros, por diversos fatores, incluindo preconceito sobre a disciplina de Artes, aprenderam desde sempre a odiar a construção de qualquer coisa relacionada às Artes.

Os adolescentes sempre tem muito o que dizer, mas necessitam de orientação para que possam dizer o que pensam, sem que isso seja ofensivo para quem ouve.

Um exercício interessante é iniciar esse processo de busca pela dosagem certa de como e quando se dizer o que se pensa, através da expressão artística. Para isso que nós, professores de artes existimos.

Personalizar é tornar algo pessoal, dar a sua cara, o seu estilo a uma coisa pré moldada em padrões que muitas vezes não nos agradam.

Nesse sentido, propor aos alunos de 9° ano que participem desse processo de personalizar algo pode ser muito frutífero. Geralmente, os alunos adoram atividades como essa pois podem manifestar seus desejos, medos, ansiedades e opiniões de modo que mantenham, de certa forma, sua proteção do mundo exterior, que tanto os assusta, por mais que nunca venham a admitir.

É muito importante o papel do professor nesse processo. Não se pode poder o aluno, mas antes, orientá-lo com relação a atitudes preconceituosas, ou que afete de maneira negativa ao outro, o qual ele deve aprender a respeitar e conviver. E de resto, permitir que o aluno de fato demonstre sua opinião, sem  restrições. Opinião não é certa ou errada, é apenas uma opinião. O que os alunos não aprenderam ainda é que, para se ter uma opinião a respeito de algo, ele deve antes refletir a respeito desse algo, observar e ponderar sobre os motivos que o levam a pensar daquela maneira, notar os aspectos positivos e negativos da coisa e de que maneira essa coisa o afeta, a fim de, só então, formular uma opinião a respeito de algo.

Deste modo, é impossível produzir algo em artes, manifestar sua opinião através das artes sem antes partir de uma profunda reflexão.

Geralmente existe uma certa resistência no início. Mas aos poucos, com jogo de cintura e muita paciência e compreensão, o professor é capaz de ganhar a turma, e muitas vezes os alunos conseguem enxergar prazer e alguma diversão nesse processo de criação artística.

O professor não deve se esquecer de que já teve 13 anos um dia. E basicamente, todo mundo com 13 anos acredita que pode tudo, que não existem limites, e que é o dono da verdade. Sabemos que isso não é verdade, mas vai dizer isso a um adolescente de 13, 14, 15 anos.

Abaixo algumas personalizações de alunos do 9° ano.

O que vai no seu prato?

Ao trabalhar arte contemporânea com os alunos do Ensino Médio, sugeri que eles refletissem sobre a situação do país, e a partir dali, criassem uma obra que fosse o resultado dessa reflexão.

Tivemos discussões em sala a respeito das várias ideias dos alunos. Escolhemos um objeto: o prato.
O prato foi o símbolo base para a criação das obras deles.

Refletimos a respeito do significado do prato: ele serve para suportar o alimento, que é essencial para a vida humana. Vida essa muitas vezes negligenciada pelos governos, pela sociedade como um todo.

A partir dali eles soltaram a criatividade e demonstraram suas críticas sobre o que vai no prato do povo brasileiro.

Eis algumas obras resultantes desse processo:

Orientei aos alunos para que eles buscassem maneiras de expressar suas opiniões que utilizassem o mínimo de palavras possível. Que fizessem uso de imagens que simbolizassem as ideias, e que fosse visível através de sua obra de arte. Aqui, as orelhas de burro, feitas em papel, algo bem rústico, com a palavra "vendido" ao lado, representando  a falta de opinião dos brasileiros com relação à inundação que sofremos da cultura americana.






A violência representada pelo boneco de índio com um flecha em mãos, o vício, demonstrado através da lata de cerveja e cartelas de comprimidos, a ganância, como se tudo dependesse de sorte, ou o jogo, presente no dado. Também as cores escolhidas na pintura do prato reforçam a ideia.